sexta-feira, 5 de agosto de 2011

Já começa com o despertador que toca; a chaleira que apita e a porta que se fecha. A caminho do trabalho percebo inúmeras pessoas na mesma rotina. É carro passando, buzina e alarmes disparando, o apito do guarda na esquina misturado com o berro da mãe do menino que corre pela praça. O pedreiro da construção mexendo com a vizinha que passa, o jornaleiro dando bom dia ao cliente, o padeiro liberando mais pão quentinho. No trabalho tudo continua. Muita gente, um falatório sem fim, cada um no seu setor. O gerente que cobra o funcionário, a secretária tentando agendar uns clientes ao mesmo tempo em que tenta driblar outros, a faxineira torcendo o pano de chão enquanto fala para a outra do barraco que foi a novela das nove de ontem e, de repente, chega o patrão, teremos reunião. Xiiii, sujou! “(...) quero que vocês batam a meta do mês, a concorrência está na nossa frente. Não me venham com essa de baixa produção por falta de motivação. O vale está suspenso e o cafezinho também. Tenho dito!”. Mais ti-ti-ti depois que o chefe sai. Na tentativa de consolar o colega de trabalho, um abraço pra acalmá-lo; uma água para aquela que quase desmaiou e um bate-boca de leve entre os que aprovam e os que não aprovam a atitude do patrão. Melhor voltar pra casa, jantar com a(o) esposa(o) e fazer o dever de casa com o filho caçula, e até dar aquela bronca na filha mais velha que não lavou a louça do café e faltou à escola. Nada como uma cama quentinha com a coberta cheirosa, ao lado de uma boa cia. Mas, antes disso tem o telejornal para se informar das loucuras da vida, dos pesadelos do dia a dia e o tempo de amanhã. Agora sim, um sono tranquilo nas poucas horas que faltam para começar tudo novamente.
Assim é a vida. Você tem seus interesses e eu os meus, você busca satisfazê-los assim como eu. Mas de onde vem isso, como funciona, para que serve?
Ninguém me ensinou que tudo começou quando minha mãe deu à luz a mim. Quando eu chorava e ela me cobria ou me amamentava ou até mesmo me dava a chupeta que perdurou por tantos anos. Eu tinha pai sim, mas no meu mundo de recém-nascido só existia ela e foi por isso que formamos um elo muito forte entre nós. Meu pai se punha doido quando eu engasgava, mas minha mãe sabia que era só me levantar e bater em minhas costinhas que logo me acalmava. Ela entendia perfeitamente o que eu queria e precisava e, detalhe: ela me satisfazia.
Depois fui pra escola. Gostava das músicas que aprendia e da tia que dava a merenda. A tia da classe era brava, não entendia por que eu era quietinha(o), mas eu não ligava. Continuei crescendo, a família aumentou e até um cachorrinho eu ganhei. Chegou a hora de ir pra faculdade, morar em outra cidade, tentar um estágio, me formar com louvor e um bom emprego conseguir. Nesse tempo todo fiz amizades e inimizades. Nunca matei ninguém por isso, mas confesso que já beijei bastante assim. Foi assim que me casei, tive meus filhos e pretendo ter meus netos. Zelar pela família e pelos amigos, desejando algo melhor aos inimigos. Um dia precisarei deles, um dia poderão precisar de mim. Não importa quem seja, pois são os relacionamentos de uma vida. São os vínculos, bem ou mal, que eu formei durante todos os anos de existência na terra. E pensar que tudo começou com mamãe. Graças a Deus por isso!

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